Da Distopia à Esperança: Destaques do Clube de Leitura e Cinema (Re)Imaginando Tecnologias

De 16 de dezembro de 2024 a 30 de março de 2025, a DPA, o Instituto Da Hora e a Eureka realizaram o Clube de Leitura e Cinema “(Re)Imaginando Tecnologias: Caminhos para o Futuro”. Essa iniciativa gratuita e aberta ao público reuniu mais de 250 participantes de diversas regiões do Brasil.

Abaixo, apresentamos alguns destaques do Clube de Leitura e Cinema.

Tema do Clube

Este Clube teve como foco a (re)imaginação de futuros e tecnologias por meio da ficção científica produzida além do Norte Global. A atividade fez parte de uma iniciativa colaborativa entre a DPA, a Eureka e o Instituto da Hora. Participantes foram convidades a se engajar crítica e criativamente com obras de ficção científica produzidas fora das narrativas ocidentais dominantes, refletindo sobre as questões políticas, sociais e tecnológicas levantadas por essas histórias.

O Clube promoveu uma compreensão mais profunda de como a tecnologia e o futurismo são vividos, contestados e reinventados em diferentes contextos culturais e geopolíticos. As discussões abordaram temas como vigilância, crise climática, trabalho e resistência pós-colonial.

Um dos principais objetivos era criar um espaço no qual fosse possível questionar quais futuros são priorizados na ficção científica mainstream e a imaginar trajetórias alternativas fundamentadas na agência coletiva, no cuidado e na justiça. Ao fazer isso, o Clube criou um espaço de reflexão sobre o poder das narrativas para moldar não apenas a tecnologia, mas também as políticas e a sociedade — promovendo práticas especulativas que rompem com modelos excludentes de progresso.

Livros e Filmes

Livro do mês 1 e 2: Kentukis
FILME DO MÊS 1: SLEEP DEALER
FILME DO MÊS 2: They cloned tyrone

Nos dois primeiros meses do Clube de Leitura e Cinema, o tema das distopias na ficção científica serviu como ponto de partida para refletir sobre a tecnologia como ferramenta de opressão, vigilância e exploração. Por meio de narrativas especulativas ancoradas em contextos culturais e políticos diversos, participantes foram incentivados a examinar criticamente como os sistemas tecnológicos podem reforçar desigualdades de poder e viabilizar o controle social.

O livro selecionado para esse eixo foi Kentukis, da autora argentina Samanta Schweblin. A obra retrata um mundo onde pequenos robôs em forma de animais, chamados Kentukis, passam a fazer parte do cotidiano, permitindo que indivíduos anônimos observem — e, às vezes, manipulem — a vida de outras pessoas. O que inicialmente se apresenta como uma ferramenta de conexão logo se revela um possível mecanismo de vigilância, levantando questões sobre intimidade, controle e a mercantilização da privacidade.

O filme do primeiro mês foi Sleep Dealer, dirigido por Alex Rivera. Ambientado em um futuro militarizado em que as fronteiras estão fechadas, mas o trabalho circula livremente por meio de redes digitais, a narrativa acompanha um jovem mexicano que conecta seu corpo a um sistema global de trabalho remoto. O filme explora temas como migração, autonomia corporal e terceirização neoliberal da mão de obra, tornando visíveis estruturas que exploram trabalhadores em nome do progresso tecnológico.

Já o filme escollhido para o segundo mês foi  Clonaram Tyrone, dirigido por Juel Taylor. Misturando ficção científica, sátira e crítica social, o enredo revela uma conspiração governamental envolvendo experimentação genética e controle mental direcionados a comunidades negras. A obra faz uma crítica contundente ao racismo sistêmico, à vigilância e à mercantilização dos corpos negros, oferecendo uma reflexão poderosa sobre como a história e a tecnologia se entrelaçam na reprodução das desigualdades.

Livro dos meses 3 e 4: binti
Filme do mês 3: Belle

Nos dois últimos meses, o Clube deslocou seu foco das distopias para as utopias na ficção científica, explorando como futuros imaginados podem inspirar novas formas de viver, se relacionar e repensar o potencial transformador da tecnologia. Em vez de enfatizar o controle e a exploração, essas obras convidaram os participantes a refletirem sobre resiliência, identidade e caminhos alternativos para futuros mais justos e inclusivos.

O livro selecionado foi Binti, da autora nigeriano-americana Nnedi Okorafor. A história acompanha uma jovem Himba que se torna a primeira de seu povo a ser aceita em uma prestigiada universidade intergaláctica. Binti desafia narrativas dominantes sobre ciência, pertencimento e progresso, propondo uma visão de futuro enraizada na herança cultural, no intercâmbio de saberes e na cura.

O filme escolhido para o terceiro mês foi Belle, dirigido pelo cineasta japonês Mamoru Hosoda. Esta animação reimagina o clássico A Bela e a Fera em um mundo digital de futuro próximo, onde as pessoas podem criar versões alternativas de si mesmas por meio de uma vasta plataforma online. Através da jornada de Suzu — uma adolescente tímida que encontra força e voz em seu avatar digital, Belle — o filme aborda temas como luto, conexão, anonimato e autoexpressão em espaços virtuais, questionando as fronteiras entre realidade e tecnologia.

Filme do mês 4: Pumzi
Filme do mês 4: Uýra

No último mês do Clube, dois filmes orientaram as reflexões com o objetivo de explorar compreensões alternativas da tecnologia — não apenas como máquinas ou ferramentas digitais, mas como sistemas de conhecimento, criatividade e conexão. As obras destacaram como a natureza, a arte e a sabedoria ancestral podem coexistir com — e até moldar — futuros tecnológicos mais justos, inclusivos e sustentáveis.

Pumzi, dirigido pela cineasta queniana Wanuri Kahiu, é um curta-metragem ambientado em um mundo pós-apocalíptico, onde o colapso ecológico e a escassez extrema de água forçaram a humanidade a viver em assentamentos subterrâneos altamente regulados. A narrativa acompanha uma jovem cientista que ousa imaginar e buscar a vida além dos limites de sua sociedade, enfrentando o desespero ambiental e o controle autoritário com imaginação e esperança.

Uýra: A Retomada da Floresta, documentário brasileiro dirigido por Juliana Curi, acompanha a jornada de Uýra Sodoma, artista indígena não binárie e biólogue, enquanto percorre a floresta amazônica usando a performance artística para promover consciência, afirmar identidades indígenas e empoderar jovens LGBTQIA+. Misturando ecologia, arte e resistência, o filme oferece uma poderosa meditação sobre a relação entre corpo, território e transformação.

Rodas de Conversa e Eventos de Exibições

Um componente central do Clube foram os “Rodas de Conversa” — encontros dedicados nos quais os participantes se reuniam para compartilhar reflexões, ideias e perguntas sobre o livro e/ou filme do mês. Esses espaços promoveram o diálogo coletivo e o pensamento crítico, aprofundando o engajamento com as obras selecionadas e permitindo que diferentes perspectivas emergissem. Ao longo do Clube, realizamos três Rodas de Conversa: dois virtuais e um híbrido, garantindo acessibilidade a participantes em diferentes localidades e contextos.

As Rodas de Conversa também proporcionaram um espaço para trocas significativas com convidades especiais e especialistas, enriquecendo os debates com uma variedade de perspectivas. O diálogo foi moldado e aprofundado pelas contribuições de participantes e especialistas convidados, incluindo Nina da Hora, fundadore e diretore do Instituto da Hora, cujo trabalho se concentra em justiça racial, tecnologia e ética na ciência. Também contribuíram membros da equipe da Data-Pop Alliance, como Julie Ricard, ex-diretora do Programa de Tecnologia e Democracia da DPA, que compartilhou reflexões sobre direitos digitais, tecnologias feministas e a interseção entre narrativas e justiça social.

Para ampliar a inclusão e o acesso equitativo, organizamos exibições virtuais de todos os filmes selecionados. Essas sessões garantiram que todos os participantes pudessem se engajar com as narrativas visuais, independentemente do acesso individual a plataformas de streaming — reforçando o compromisso do Clube com um ambiente de aprendizado inclusivo e acolhedor.

Evento Híbrido em Recife

Foto tirada após o encontro presencial em Recife, com os palestrantes e participantes.

Outro componente fundamental foi o encontro híbrido realizado em Recife (Pernambuco, Brasil) e online no dia 29 de março. O evento de 4 horas reuniu participantes para uma experiência compartilhada com os filmes selecionados do mês — Pumzi e Uýra: A Retomada da Floresta — por meio de uma exibição coletiva que serviu como base para reflexões mais aprofundadas.

Após a exibição, foi realizada uma mesa-redonda com convidades especiais: Luana Maria, fundadora e CEO da Pajubá Tech; George Valença, professor associado da UFRPE; e Carla Silva, professora do CIn – UFPE e coordenadora do Grupo Cíntia. O evento foi encerrado com uma Roda de Conversa presencial, em que participantes puderam dialogar diretamente com os convidados e com Nina da Hora.

Esse encontro marcou um momento potente de conexão, ancorando as reflexões do Clube em um espaço físico compartilhado e reforçando o valor do diálogo coletivo. Ao reunir membros da comunidade, ativistas, acadêmicos e artistas, o encontro destacou a força das perspectivas interseccionais e a importância de enraizar as conversas sobre tecnologia nas realidades locais. Este evento de encerramento sintetizou o espírito do Clube de Leitura e Cinema, criando espaços onde histórias impulsionam transformações e onde imaginar outros futuros se torna um ato colaborativo e de empoderamento.

Eventos Futuros

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